Sentado em minha cela, olhando pelas grades da janela, posso admirar toda a beleza do reino de Lar, com suas torres majestosas e as belas florestas que nos cercam. A vida caminha tranquila e o povo élfico não parece perceber o mal que corrompe nossa sociedade.
A beleza pode ser perturbadora, principalmente quando se olha em seus olhos e pode-se ver o quando vil e traiçoeira pode ser esta criatura.
Escrevo estas memórias póstumas para deixar um registro de minha história e os desejos de meu coração. Registros que espero que não sejam maculados após minha morte, pois sei que meus inimigos difamaram todas as minhas lembranças, me transformando em um monstro.
Mas como defender meu povo e nosso modo de vida, se não posso ser tão cruel e impiedoso quando nossos inimigos. Aqueles que destroem toda a beleza e envenenam nossos corpos e mentes com suas ideias e espíritos.
Minha história começa ainda na minha juventude, na bela aldeia de Isialias, na tradução do elfo antigo, Belo Rio. Uma aldeia bela e simples, mas dentro de sua simplicidade era possível ver a beleza de nossa cultura, com edificações ricamente trabalhadas e fundidas as floresta.
Desde sempre tive uma grande admiração pela natureza, animais e vegetais que são o ápice de todo o poder de Maira, obra incontestável de seu poder.
A aldeia de Isialias não era muito diferente das demais que existiam na floresta de Alzinor. Se você que lê minhas memórias não é capaz de saber onde fica a floresta, a explicação é simples, ela já não existe mais.
Em seu lugar há agora campos para as criações dos humanos e uma aldeia que corrompe a natureza, poluindo com dejetos o belo riacho local. Mas estou me adiantando.
Na época eu era nada mais que um jovem elfo, o quarto filho de Aloar e Sentor, uma simples família de artesão. Minha mãe Aloar era uma das seis artesãos do vilarejo e a beleza de suas obras encantava a todos que as visse.
Meu pai Sentor sempre foi um homem dos livros, passando grande parte de sua tarde absorvida em estudos acadêmicos sobre os mais diversos assuntos, mas seu principal interesse sempre foi os tratados históricos e políticos de nossa raça e as grandes famílias élficas.
Minhas três irmãs mais velhas, belas e inteligentes, dedicavam-se a estudos da vida. O que mais tarde passaria a entender como sendo os grandes tratados de Maira. Um estudo profundo sobre a interação perfeita entre os povos considerados conscientes e a natureza permitindo assim impacto insignificante as obras de Maira.
O começo do fim veio infelizmente com a inocência de Sillenia, minha irmã mais velha, que acreditava que fosse possível mudar o coração do homem. Ela entre os diversos embaixadores enviados aos humanos, como professores, foi incapaz de mudar suas mentes e corações.
No período em que permaneceu como professora na aldeia humana acabou por se apaixonar por um humano, chamado Pedro. Sillenia deixou-se seduzir e enlouquecer por um amor doentio, abandonando seu futuro marido Galvenor, um elfo de uma família próxima a nós.
Na ocasião foi um escândalo e as relações entre as duas famílias ficou balançada, mas foi respeitado o desejo de Sillenia e nossos pais apesar de não concordarem, não se opuseram abertamente contra minha irmã.
Sillenia abandonaria nossa vila para viver com seu humano e por longos anos não teríamos notícias dela.
A vida seguiria nos anos seguintes com a minha ida as escolas de magia. Meus professores sempre afirmavam que dentro de mim existia o que consideravam uma rebeldia e força indomável que se canalizada corretamente poderiam me levar à grandeza dentro da magia.
Palavras que me marcaram e me guiaram na difícil estrada da magia. Ao contrário do que muitos falam, não fui um dos maiores magos de minha turma ou geração, mas ao contrário dos outros fui sempre tomado por uma insatisfação de trilhar caminhos já trilhados.
Sempre quis fazer meu destino. As lembranças que tenho de meus tempos como estudante sempre foram boas e alegres, um tempo lúdico e que me afastou das lembranças de minha querida irmã.
Formado e pronto para servir ao império, fui enviado para diversas regiões e por longos cinco anos, fui um andarilho sem lar, servindo ao povo. Foi quando próximo ao fim de meu tempo de serviço que recebi uma das piores notícias de minha vida.
A mensagem que me foi entregue era de retornar para a minha vila e prestar luto na família. Em um primeiro momento acreditei que talvez um de meus pais tivesse falecido, mas somente quando cheguei a casa fiquei sabendo que havia sido Sillenia.
Relatos fragmentados que chegaram a minha família foram de que a aldeia humana onde Sillenia vivia com seu humano, havia sido saqueada nos intermináveis conflitos que ocorrem entre humanos.
Apesar dos anos distantes, a dor que se abateu em meu coração foi imensa e por longas noites fiquei em claro.
Hoje sei que este foi o primeiro degrau de uma escada que me levou a busca pelo poder e forma de vingar e proteger meu povo contra as barbáries dos humanos. Uma estrada que não poderia ser seguida se eu permanecesse na minha vila, portanto parti para a capital.
Taimia, a grande capital élfica, berço de sua civilização, encrustada nas grandes planícies cinzentas. Nos primeiros anos da existência élfica, foi lá o local considerado como o primeiro local onde Palier tocou o solo e o consagrando.
A cidade era o exemplo de toda a beleza, esplendor e gloria élfica. Uma cidade gigantesca com mais de 400 mil almas élficas e aos olhos dos que a viam pela primeira vez, confundiriam como uma floresta belíssima, com árvores de belos tons de verde, amarelo e vermelho.
Em Taimia fui feliz pela segunda vez e nela pude me dedicar aos estudos e aperfeiçoamento de minha arte. Foi lá também que encontrei meu primeiro e grande amor, a nobre Gilnelia.
Gilnelia era filha de pais voltados para os estudos arcanos. Durante o dia compartilhava a sala da biblioteca e os estúdios de artes arcanas de seus pais e a noite a cama da filha.
Eu era parte de uma nova família e meus professores tornaram-se queridos como meus pais e fui aceito de todo o coração por eles. O tempo passou e o meu amor por Gilnelia aumentou e começamos a planejar nosso casamento.
Foi quando tive pela primeira vez contato com a facção dos Isolacionistas. Nas óticas de um jovem inexperiente, as palavras cheias de mel confundiam e seduziam. Fui à diversos dos debates levados por Gilnelia e por longo tempo integramos seu grupo.
Aqueles que me conhecem verdadeiramente sabem que jamais odiei os Isolacionistas e jamais desejei suas mortes. Suas belas ideias são belas para um mundo habitado pelos deuses e harmonioso.
São crianças ingênuas que se enganam em acreditar em sonhos que não vão se realizar, mas por um longo período vivi em um mundo de sonhos e acreditei neste ideal.
Mas foi também na capital Taimia que tive minha segunda grande dor, quando uma doença desconhecida afetou Gilnelia e o deus Cruine a levou de mim.
As memórias de minha amada sempre me acompanharam o restante de minha vida e por longo tempo fui um eremita solitário até que ocorreu o grande chamado. Sejam os pais de minha amada ou ainda amigos próximos, fiquei afastado de tudo e de todos.
O destino parece nos levar em uma corrente inexorável que nos impele para aquilo que deve ser o que nós devemos ser. Em meus longos dias de estudo, mergulhei em todo conhecimento antigo, passando horas na biblioteca das ordens mágicas e estudando tomos arcanos considerados por muitos como perigosos e duvidosos.
Muitos diriam que seria a dor ou o isolamento que me levaram ir “longe demais”, mas posso dizer que foi a curiosidade, a busca pelo conhecimento que me levou a abrir portas que para muitos não existe a coragem de passar.
O poder foi inebriante, um mar de energia infinita e mortal, mas como tudo que existe no mundo, há consequências para os meus atos. Depois de meses usando está energia proibida, arcana e milenar, manchas começaram a aparecer em minha pele.
Dizem ser as manchas de meu caráter, exposto em minha pele, mas ao contrário de quando era jovem, que as escondia, hoje ostento com orgulho. São marcas de um sacrifício necessário para garantir ao meu povo um futuro digno.
Garantir não aos meus filhos, mas aos meus futuros sobrinhos e filhos de meus amados amigos um futuro que as outras raças estão nos roubando.
Em uma tarde, recebi a noticia que minha vila assim como outras haviam sido completamente destruídas. De imediato, meu coração se encheu de dor por notícias de meus parentes e ao final do dia seguinte fiquei sabendo que toda a população havia sido retirada em segurança.
Fui receber meus parentes nos portões da cidade, com os olhos cheios de lágrimas e um coração leve. A vinda dos refugiados era vista de longe e a bandeira que tremulava entre as tropas que garantiram a assistência aos refugiados não era dos Isolacionistas, mas sim da facção dos Expansionistas. Estes foram os elfos que arriscaram suas vidas para trazer seu povo em segurança.
Risos e lagrimas derramei em meu reencontro com meus pais e irmãs. E uma grande alegria tomaria meu coração novamente pelos anos seguintes.
Foi neste dia também que conheci Armidar Arcosi, o grande chefe militar e líder da facção dos Expansionistas. Fui convidado assim como outros para participar dos debates da facção.
Armidar Arcosi é um daqueles elfos que quando se coloca os olhos, instantaneamente se sabe que é uma criatura superior. Filho de uma das maiores e mais proeminentes famílias nobres de Taimia e também por parte de pai, um dos ramos de sucessão de império.
Belo, eloquente e educado era capaz de entrar em um grande salão e atrair a atenção de todos. Sua habilidade com as palavras somente eram superadas com sua capacidade com arco e flecha.
Centenas de humanos encontraram seu fim em suas flechas certeiras.
Ao contrário da grande maioria dos nobres de Lar que buscavam o convívio pacífico com outras raças, Armidar Arcosi pregava que estas raças eram incultas, crianças barulhentas e destruidoras que necessitavam desesperadamente de um instrutor duro e sábio para guia-los a um futuro próspero.
Pelos anos seguintes, a ideia de Armidar Arcosi foi lentamente ganhando terreno entre os de classe mais baixa e entre alguns poucos nobres.
Muitos diriam que a casualidade foi o que me permitiu ascender dentro da facção dos Expansionistas, mas a grande verdade é que após a chegada de meus parentes, naquele dia no discurso de Armidar Arcosi nos portões da cidade, meu coração foi tomado pela pureza de suas palavras e me senti convocado à causa.
Jamais faltaria a uma reunião sequer e dediquei tempo e força a causa Expansionista, buscando divulgar suas ideias com toda a minha convicção. E foi através de trabalho duro e empenho que fui tornando-me uma figura reconhecida e respeitada.
Mesmo os membros da facção Isolacionista sempre tiveram respeito por mim e durante este tempo o convívio foi pacifico apesar das ideias divergentes.
Mas como já havia dito anteriormente, a beleza de uma serpente não a torna menos perigosa. E neste caso a grande serpente foi Áriem Miniel, uma das mais famosas oradoras dos Isolacionistas.
No grande dia da votação da monção de apoio ao estreitamento das ligações élficas-anãs, no plenário das grandes casas nobres pude ver o início de uma nova era.
Para aqueles que nunca tiveram o prazer de entrar em tão bela edificação, não tiveram a oportunidade de ver o pináculo de nossa beleza e grandeza. Uma estrutura feita em madeira, com folhas verdes, mas belas como ouro, escadas de mais belo mármore e a cúpula delicada que permite a noite deslumbrar as magnificas estrelas sobre nossas cabeças.
Lá, neste belo lugar, nas bancadas, pude admirar a belíssima Áriem Miniel discursar para as grandes casas e seus representantes. Palavras que saiam de uma bela oratória, cheia de intensidade e emoção e que eu sabia serem lúdicas feitas por sonhadores, mas que me peguei querendo acreditar.
Neste mesmo dia Armidar Arcosi não fez menos e seu discurso sensibilizou a assembleia, mas nada poderia fazer frente a Áriem Miniel neste dia e sua monção a aliança entre elfos e anões foi aprovada.
Uma derrota estrondosa para os Expansionistas, como muitos viriam a dizer nos anos seguintes, mas para mim não. Vi nos erros um momento de clareza e oportunidade.
Estava claro até mesmo dentro de nossa facção que Armidar Arcosi apesar de ser um nobre elfo e seus ideais serem puros, sua determinação era fraca. Muitos vieram a mim em busca de conselho e demonstraram tamanha insatisfação que no coração de nossa facção fundamos um grupo “Os Filhos de Palier”.
Elfos que verdadeiramente estariam comprometidos com o futuro de nossa sociedade, de nossas crianças. Determinados a trazer novamente a pureza e equilíbrio ao mundo corrompido por espécies vis e cruéis.
O que nunca deixei de me surpreender foi à ambição das criaturas vis. Dentro da sociedade anã, um de seus clãs, o mais pobre e humilde, se entregou a fome de riqueza e poder fácil e adotou os nossos ensinamentos mágicos.
Foi o inicio da derrocada anã e por fim o termino das boas relações politicas entre os reinos élficos e anão.
Verbetes que fazem referência
Minha Grande Luta
Verbetes relacionados
Lembrança do Passado