Desenvolvimento do Tagmar 2
Ambientação não oficial
A Vila do Peixe Pérola
Por Imiril Pegrande
Apresentação
Este trabalho é uma ambientação não oficial para o RPG Tagmar. A Vila do Peixe Pérola era uma pequena, isolada e próspera vila de pescadores. Mas a ameaça de uma Aparição bloqueou o uso do farol da vila. Isso impossibilitou a pesca e outras formas de comércio marítimo. O lugar, agora, não passa de um vilarejo devorado lentamente pelo tempo, a areia e o medo.
Nota
Escrevemos esse texto tendo em mente que os narradores poderiam usá-lo como uma “carta na manga” quando as ideias estiverem escassas, ou quando os jogadores precisarem de um entreposto durante uma viajem marítima ou aventura. Se tudo funcionar como pensamos esse será o primeiro de vários locais descritos dessa forma. Nosso objetivo, além de enriquecer o cenário é ajudar os narradores com uma ferramenta que vai lhes poupar bastante tempo. Tempo esse que eles poderão usar para maquinar outras coisas perigosas e divertidas para seu grupo de jogo.
É possível, por outro lado, usar esse material como plano de fundo para uma aventura ou campanha. E alguns jogadores podem usar a vila como origem para seus personagens ou para enriquecer seu background.
A Vila do Peixe Pérola pode ser instalada em qualquer ponto do mapa em que haja um litoral de clima tropical. No entanto, sugerimos sua localização em algum lugar no Litoral Leste da Região dos Reinos, entre Porto Coral e os Recifes do Tubarão. Você pode mudar isso de acordo com a conveniência do seu grupo de jogo.
A fundação da vila
Há sessenta anos um velho pescador e sua esposa construíram sua casa nas falésias à beira de uma enseada de corais.
Para ela, era a concretização de um sonho. Seu reino particular numa praia paradisíaca. Para ele, era o encerramento de uma vida de aventuras e perigos em alto mar. Uma aposentadoria merecida para um velho lobo do mar.
Junto deles ficou um punhado de velhos marujos, também aborrecidos da vida perigosa em alto mar. E por vinte e cinco anos todos eles foram felizes.
Prosperidade
Durante aqueles anos o pequeno grupo de marujos aposentados se transformou num vilarejo de pescadores com cerca de cem pessoas. Além dos fundadores, com o passar tempo, outros foram chegando. Foram filhos, netos e bisnetos que lhes nasceram, além de outros amigos fatigados da vida no convés que aderiram ao pacato lugar para passar seus últimos dias.
A vila era dirigida com o rigor e a democracia de um navio. Capitão, imediatos, intendentes, oficiais e outras patentes, comuns no convés, ainda eram exercidas e respeitadas. Bem como as divisões do trabalho e dos lucros do pescado.
A enseada do peixe pérola não foi escolhida por acaso para abrigar a vila. O peixe que dá nome àquela praia é muito raro em outras partes do mundo, mas muito abundante ali. Esse peixe, de carne saborosa e apreciada, habita a enseada e os recifes de corais da região. O corpo escamoso, cinzento avermelhado e muito robusto, chega a 1,2m e 80kg, com cabeça grande e poderosa mandíbula.
A pesca do peixe pérola é feita em mergulho, com uso de arpão. Uma técnica difícil e perigosa na qual os pescadores da vila são grandes mestres. Ele alimenta-se de outros peixes menores e também de crustáceos, mas tem predileção por ostras. Sua forte mordida quebra as carapaças com facilidade e um ou outro pescador já teve o dedo arrancado. Além da carne, o peixe é famoso por acabar retendo as pérolas das ostras devoradas. Muitos pescadores já encontraram essas joias nas vísceras do animal depois de pescar um. Diferente dos demais frutos da pesca - repartidos entre todos em porções de acordo com a patente - a pérola encontrada no peixe pertence àquele que o arpoou. Mais que um punhado de pescadores já conseguiu muito dinheiro assim.
Com o crescente comércio, o capitão da vila ordenou a construção de um farol que possibilitou a navegação até a enseada e o comércio com outras embarcações. Semanalmente barcos vinham à vila comprar o delicioso e lucrativo animal. E, dessa forma, o comércio do peixe pérola trouxe muita prosperidade para o povo.
Tempos difíceis
Vinte e cinco anos após a fundação, no auge da prosperidade, a vila foi atacada por piratas. Muitos foram assassinados. Uns poucos conseguiram esconder-se nas falésias. Todos os marujos fundadores que foram encontrados, inclusive o capitão, foram presos e enforcados no alto do farol, ao qual os piratas atearam fogo em seguida. Os corpos carbonizados ficaram ali durante vários dias. Aos poucos alguns sobreviventes retornaram. Entre eles estava a esposa do capitão. Mesmo sem filhos e arrasada pela dor e o luto ela encontrou força para comandar os sobreviventes e recuperar o que foi possível na vila.
Os dias seguintes foram de muito trabalho. Após o funeral e as devidas homenagens aos mortos a reconstrução da vila foi iniciada. Pouco mais de vinte sobreviventes permaneceram. Daqueles que não foram assassinados, a maioria foi embora para nunca mais voltar. A nova capitã organizou a reconstrução do atracadouro e restauração do farol. Em poucos dias tudo estava limpo e os pescadores planejavam o retorno às atividades e formas de se proteger contra novos ataques. Mas os deuses não estavam a favor dos sobreviventes. Enviaram sobre eles uma provação ainda mais terrível.
Fantasmas
Durante as primeiras noites, logo após a reconstrução, os vigias do farol começaram a comentar sobre pequenas perturbações. Lamparinas quebradas, pequenos objetos que sumiam e outros contra tempos. Mais tarde, vieram comentários sobre luzes que se acendiam ou apagavam sozinhas, sussurros noturnos em salas vazias e sons de passos nas escadas. Não demorou muito para que as pessoas concluíssem que o farol estava assombrado. O medo de ir ao farol foi imediato. Ninguém queria arriscar ser alvo da fúria dos espíritos. Após muito debate uma comissão foi escolhida para entrar no farol e permanecer ali por alguns dias, até que ficasse provado a existência ou não dos espíritos. Três dias depois quatro membros da comitiva apareceram mortos. Pendurados pelo pescoço no mesmo local onde outrora haviam sido enforcados os fundadores. Os dois últimos integrantes da comitiva nunca mais foram vistos.
A própria capitã resolveu, pessoalmente, ir ao farol e investigar o local. Assim que abriu os portões foi recebida em pessoa pelo espírito de seu esposo. A dor e o choque foram terríveis. Então, ela ordenou que o farol tivesse suas portas seladas e que nunca mais fosse usado.
Dias seguintes
Depois de quarenta e cinco anos apenas dez famílias permanecem na Vila do Peixe Pérola. Seu líder ainda é a viúva capitã, que agora é uma senhora idosa conhecida por A Velha da Vila. Quase todos os que ficaram são aparentados de algum modo, primos, tios, irmãos ou pais. Os pescadores ainda descem às águas para arpoar peixes pérola, mas sem o farol é impossível reativar o comércio. Sendo poucos os pescadores capazes não há dinheiro ou pesca suficiente para construir outro farol. Além do mais, conformados pelo tempo, a maioria está satisfeita com as coisas do jeito que estão e não querem a prosperidade de outrora da qual nem todos lembram. Pesca-se o necessário para alimentar e vestir os filhos. O excedente é salgado e levado para a Estrada do Rei para ser comercializado com viajantes de passagem por aquele caminho.
No entanto, muitos jovens cansados da vida simples e da pescaria têm ido embora. À procura de seus sonhos e anseios. Muito raramente algum retorna.
E assim a vida segue na Vila do Peixe Pérola. À noite, sob a luz e calor da fogueira, os mais velhos contam histórias sobre o passado, sobre os fantasmas do farol e sobre as promessas de dias melhores.
Aventuras na Vila do Peixe Pérola
São muitas as formas de colocar o grupo em contato com a vila e seus personagens. Esta parte lista vários rumores e ganchos para que o Mestre possa inserir a Vila em sua aventura.
Detalhes sobre a vila e seus arredoresA Vila do Peixe Pérola consiste de um aglomerado de cabanas feitas de madeira numa praia rochosa repleta de longas e sinuosas falésias. A praia em si é parte de uma enseada de águas cristalinas e abundante de corais e peixes. Muitas dessas cabanas possuem conexões com as falésias e suas cavernas criando cômodos naturais encrustados na rocha. A maioria das casas está abandonada e em ruínas. Só quando há um casamento algumas delas é restaurada para a nova família. Tanto por terra quanto por mar, muito dificilmente alguém perceberia a Vila do Peixe Pérola, esta enseada paradisíaca permanece bem guardada e as trilhas que levam a ela são sinuosas e pouco usadas. Além do que, é um desafio encontrar um caminho seguro para descer as falésias até a praia.
Os corais constituem outro incrível desafio para visitantes. Apenas botes e barcos pequenos tem chance de navegar na enseada sem chocar-se contra os recifes e, mesmo eles, só podem fazer isso na alta da maré. Em noites de lua cheia as águas sobem muito, chegando à porta das casas. Nessas ocasiões, uma embarcação de porte maior poderia entrar na enseada. Durante as ressacas do mar, que ocorrem geralmente no inverno naquela região, as águas podem atingir altura suficiente para que grandes embarcações atraquem na enseada.
Em terra as falésias são guardadas por uma pequena, mas densa vegetação costeira. Formada por árvores de pequeno e médio porte com pouca opção de caça, mas muito rica em insetos, pequenos pássaros e árvores frutíferas.
Grupos de aventureiros podem acabar chegando à vila depois de um naufrágil ou após se perderem nas florestas costeiras da região. Algum integrante do grupo pode ser natural da vila e, dessa forma, conhecer as formas de acesso, ou algum dos rumores (abaixo) pode chegar ao conhecimento do grupo e eles desejarem investigar o local.