A importância da cidade era inegável e a beleza e o orgulho de seu povo para com os feitos de seus antepassados ainda eram exaltados nas músicas e nos discursos de seus líderes. Mas tudo isso foi parte de um passado distante.
A peste veio sem aviso e levou centenas em um único dia. Desespero e medo levaram centenas a abandonar suas casas no meio da noite, para encontrarem a morte nas estradas.
Com urgência, a guarda real foi chamada para “isolar” a região, impedindo que as pessoas da cidade fugissem, levando a peste para outro lugar. Muitos tentaram fugir, mas pereceram sob as flechas dos sitiadores.
Longos meses se passaram e atos inomináveis foram testemunhados e esquecidos, um segredo sombrio guardado pelos sobreviventes. Foi durante o primeiro mês de isolamento que Virnus, na época um jovem rapaz, perdeu sua pequena irmã, o lamento de sua perda era ampliado pelas condições desumanas que viviam.
Nas ruínas da cidade, a busca por alimentos era difícil; pouco mais de dois meses e já não havia nada mais nos armazéns. No mês seguinte, os animais foram devorados pelos sobreviventes, nem mesmo ratos eram vistos.
Mesmo assim Virnus, mais osso do que pele, caminhava pelas ruínas em busca de qualquer coisa que pudesse levar para comer em casa. O couro velho de ontem parecia saboroso em vista da terra que comeu no dia anterior.
Atos de cacofagia se tornaram comuns. As pessoas ficaram violentas e começaram a comer carne podre, larvas de suas feridas e vermes, após vomitá-los.
O simples som de passos levava Virnus a se esconder e este hábito por diversas vezes salvou sua vida.
Mas foi em uma noite que testemunhou algo que o marcaria por toda a vida.
Um grupo de cacófagos haviam passado por ele há alguns minutos, quando um grito ecoou pelas ruínas. A curiosidade superou o medo e arrastando-se pelas ruínas o jovem esquelético pode ver uma figura sombria à frente do grupo, a qual se contorcia no chão.
Uma sombra viva, formada por centenas de insetos e criaturas peçonhentas, gesticulava e ria ao causar dor àquelas criaturas. Os cacófagos passaram a ter ferimentos e larvas saindo de seu corpo até que explodiram, liberando centenas de outras criaturas que integraram a sombra viva feita de insetos.
Aterrorizado, fugiu e jamais voltou ao local. Tempos depois, o cerco foi aberto e, aos sobreviventes, a oportunidade de viver na nova cidade de Ambernita, onde prosseguiram com o restante de suas vidas.
Extraído de “O Livro de Maudi”, do capítulo “A epidemia da cidade de Franges” Biblioteca de Saravossa.
Ele representa não apenas a doença, mas também a poluição e a destruição dos ambientes naturais, em oposição aos sacerdotes de Maira, que reservam a pureza das coisas como ensinamento aos homens. A ínfima presença de Udoviom traz consigo as vegetações devoradas, solos e rios contaminados, animais e pessoas tomadas pelas piores doenças e com seus corpos transbordando em vermes, para assim erradicar qualquer esperança de que os seguidores de Maira possam curar a humanidade de suas tolices em desejar sempre crescer pela ambição.
Transformados por Udoviom, estas criaturas são suas crias, seus filhos, são os arautos que espalham a peste de Franges a suas vítimas com uma simples mordida ou ferimento provocado por suas garras, podendo estes transformar-se em novos Chacais ou morrerem em menos de 3 dias.
O formato destes templos é sempre retangular, com a entrada em um dos lados menores e o grande altar no outro. O espaço entre o portão de entrada e o grande altar é ocupado pelos demonistas, chacais e pilhas de cadáveres em decomposição. As paredes sempre recobertas por afrescos com o símbolo de Udoviom e a seguinte escrita “Peste de Franges”.
No centro do grande altar tem uma pira, onde chamas profanas são mantidas alimentadas com as sobras dos corpos sacrificados no templo. Crianças e mulheres com gravidez avançada são penduradas por ganchos e correntes ao redor da pira, com seus corpos completamente recobertos por um creme preparado pelos próprios demonistas com a função de atrair as pragas. Ainda vivos, agonizam e exibem centenas de insetos, principalmente moscas, para devorarem suas carcaças.
Esta predileção por gestantes e crianças como sacrifícios na cerimônia profana simboliza a aversão de Udoviom pela vida.
A massa de insetos que forma a armadura também pode ser usada para atacar o adversário, além de causar dificuldade deste se defender de ataques do demonista.
Sentidos Profanos: através do amuleto da casa de Udoviom o demonista pode estabelecer contato mental com um ou mais insetos e outros animais pestilentos da região, podendo assim ver e ouvir tudo o que é dito neste lugar.
Não sendo capaz de controlá-los ou direcioná-los para um local ou pessoa especifica, mas terá centenas de olhos e ouvidos na região de atuação da magia.
O grande portão de madeira podre leva até a cidade conhecida como Crinato, que lembra vagamente as cidades rurais, com casebres simples, moinhos e estábulos. Vastos campos com plantações devoradas por insetos. Pessoas febris agonizando com seus corpos cobertos por escaras estão espalhados por toda a cidade.
Seu palácio é o tronco colossal de uma árvore morta. Nas paredes internas e externas jazem crianças, mulheres e até fetos, sendo expostos como troféus para todos que se aproximem de seu castelo.
A cidade de Crinato é tomada pela mais perfeita afronta a Maira e suas criações. Um local onde todos sofrem a agonia de suas mazelas em um ambiente sombrio e úmido, um lugar onde a única coisa proibida de morrer é a sanidade de seus condenados. Estes devem saborear o terror de seus pecados.
Sua aparência é de um homem alto, magro e completamente nu, exibindo orgulhosamente as bolhas inflamadas espalhadas pelo corpo. A lateral de seu rosto é deformada por Miíase, envolvendo seu maxilar, estendendo-se até o pescoço. Mãos esguias, compostas por longas garras e dois pares de asas, muito semelhantes às de moscas, rompem seu dorso. Carrega em seu ventre aberto, um feto, portando consigo todas as pestes existentes.
Alcrinontes cresceu em uma bela fazenda, adorando Maira. Tornou-se um médico e seu seguidor. Durante muitos anos viajou por várias cidades e vilarejos dedicando-se a salvar vidas e curar diversas enfermidades, sem cobrar uma única moeda de cobre a quem quer que fosse.
Durante sua estadia em uma pequena vila muito longe de casa, Alcrinontes conheceu uma linda jovem, apaixonaram-se e se casaram. Não levou muito tempo e ambos foram agraciados, logo receberiam seu filho.
Infelizmente, antes que a criança nascesse, sua amada adoeceu com uma febre muito forte, mesmo com todo seu conhecimento e tratamento não conseguia curá-la. Sem ter mais o que fazer, ele rezou, implorando a Maira que a curasse, pois só ela poderia salvar sua família... Sem resposta, o pior aconteceu.
Tomado pela dor, desespero e revolta, abriu o corpo falecido de sua esposa, enquanto afrontava a Deusa que outrora adorava e retirou o feto ainda pulsante, cortou seu próprio abdome e tentou guardar o feto dentro de si enquanto deixava suas vísceras espalharem-se pelo chão. Quando acreditava que estava perto do fim, ouviu uma voz, meio arranhada, mas ainda assim poderia compreendê-la. A voz que parecia mais com o zumbido de uma nuvem de insetos o mandava levantar e assim seu corpo tomou fôlego.
Alcrinontes havia mudado, voltou a viajar e por mais algum tempo sua vida se estendeu. Por onde passava, em cada vila ou cidade por onde era conhecido e outras mais, deixava a peste. O homem que curava, tornou-se o monstro que contaminava, até que em seu fim, Udoviom o convocou e fez de sua obra prima o seu braço direito.