Na sua primeira noite longe de casa, em uma grande floresta desconhecida, o receio e o medo atingiram seus corações. Eles imaginavam se um dia voltariam para casa, no que seus entes queridos estariam fazendo e no que lhes esperaria mais à frente.
Leonir era talvez o mais destemido e foi aquele que incentivou seus amigos de infância a buscar aventuras fora da vila, a começarem uma vida de aventuras, e próximo às chamas começa seu discurso de amizade, aventura, glória e riqueza.
— Vocês estão comigo? — Perguntou Leonir.
— Sim!!! — Gritaram os três amigos em conjunto.
Então Leonir continuou seu discurso, desta vez lhes falando de um poder antigo que poderia dar-lhes poder e glória. Usando palavras eloquentes convenceu a seus amigos a jurarem lealdade e a selarem um pacto com seu mestre. Após isso Leonir exibiu uma marca em seu braço, um S cortado, e colocou a marca sobre o fogo.
— “Aceite minha oferenda, ó senhor dos pactos”. — Leonir disse em uma língua desconhecida. — Agora deem uma gota de sangue como forma de selarem o acordo.
Ronero o precavido ficou em dúvida. Embora algo no fundo de sua mente o tivesse incentivado.
— Leonir isto está certo? O Sarced... — Leonir o interrompeu e apenas disse que o sacerdote ia ser apenas mais um, sem importância nenhuma no mundo.
Mesmo relutantes os três fizeram o que lhes foi proposto. Afinal, conheciam Leonir desde pequenos e ele era seu amigo.
Assim que terminaram um vento forte fez as chamas trepidarem e reduzirem como se fosse apagar para logo em seguida ocorrer uma explosão. Uma criatura rastejante saiu de dentro das chamas e se dirigiu para Leonir.
— Você verme, aquele que me chama pelo mestre, são estas suas oferendas?
— Sim, como prometido. Estas almas de bom grado se oferecem ao mestre.
— Terás o que deseja, mas fique certo de que nos encontraremos novamente.
O demônio avançou tão rapidamente quanto os olhos são capazes de acompanhar e agarrou o pé de cada um deles os algemando no instante seguinte. Por fim se rastejou para as chamas novamente levando consigo suas oferendas.
Os três colegas gritaram desesperados sem, contudo, ter qualquer auxílio de seu antigo companheiro.
Leonir continuou sua viajem pelo mundo, sempre oferecendo novas almas para seu mestre, em busca de mais poder e riquezas, mas no final de sua vida em sua grande casa deitado sozinho em sua bela cama sentiu sua hora chegar.
A fogueira da lareira trepidou magicamente e de dentro do fogo surgiram todos aqueles que Leonir havia oferecido a seu senhor — Chegou sua hora — falou Ronero.
Outras correntes saíram das mãos das vítimas que o prenderam pelos braços e pernas puxando-o para o fogo. A força aplicada cortava seu corpo, a dor dilacerante o levou à agonia até ser sugado pelas chamas.
Extraído de O Livro de Maudi, do capítulo “A Queda do Homem” - Biblioteca de Saravossa.
Seguindo conselhos obscuros em sua mente de traição e vingança, passou a invocar e a controlar demônios, aumentando mais ainda seu poder, no entanto, algo maior que os reis feiticeiros passou a ameaçar seus planos, sua mortalidade. Absorvendo cada vez mais energia infernal para prolongar sua vida, sentiu que sua própria alma e corpo estavam sendo destruídos. A mesma voz que o incitou a utilizar a energia infernal agora o revelara a origem do poder dos reis feiticeiros, almas. Em uma única noite Sarnodis sacrificou mais de 500 escravos e, ao final do ritual, sentindo-se revigorado, decidiu que queria mais. Sua nova força, agora, o permitia invocar e controlar demônios menores com simples pensamentos. Usou estes poderes para assumir o controle de Kerniz. Sabendo que almas voluntárias e devotas a ele eram mais poderosas ao consumi-las, Sarnodis declarou-se uma divindade, prometendo riquezas e vida longa, ele passou a oferecer “pactos” àqueles que lhe jurassem fidelidade e servidão. Décadas se tornaram séculos e ele chegou à conclusão de que seus antigos inimigos, os reis feiticeiros, eram tolos por aprisionar suas almas em recipientes, ele seria maior, controlaria sua alma e faria dela seu próprio recipiente, mas para isso precisaria de mais energia...
As infelizes almas de Kerniz, mesmo ricas e prósperas, não passavam de meros escravos de Sarnodis. Ele almejando mais poder, decidiu refazer o ritual que fizera décadas atrás com seus escravos, mas agora com milhares de almas cultivadas e inteiramente suas. Durante meses a população trabalhou no plano de seu mestre sem desconfiar de seus planos. No fim, em uma noite sem lua, Kerniz e toda a sua população foi tragada pelo nefasto poder de Sarnodis e, por tamanho poder, seu corpo mortal foi destruído, porém sua alma permaneceu se materializando em carne infernal. Com isso, até mesmo os mais poderosos demônios curvavam-se, ele era um príncipe e nada o impediria de trazer o inferno a Tagmar.
No entanto, após realizar seu maior feito, veio sobre ele uma grande flecha feita de pura luz. Ela era disparada por um ser alto e veloz que pairava sobre o ar com seu arco em punho, era Cambu que trazia a fúria dos deuses ao mundo e acertara Sarnodis, a maior abominação que um filho poderia tornar-se. Paralisado pela dor da flecha que acertara sua coxa, o príncipe da tirania não se intimidou pelo deus. Cambu sabendo que um combate direto com ele causaria uma destruição muito maior que a prevista, estava decidido a apenas imobilizá-lo. Ao usar toda sua força, conseguiu prendê-lo com correntes místicas, uma obra prima de Parom. Gritando juras de vingança e destruição, Sarnodis foi arrastado para as regiões infernais onde está trancado até hoje.
No entanto, ele não costuma revelar esta face aos mortais. Alguns de seus seguidores alimentam a imagem de que ele seria um mártir, um mortal em busca de poder e liberdade que fora amaldiçoado injustamente pelos deuses. Seus pactos nada mais seriam do que graças concedidas a um preço justo.
A alcunha de “aquele que arrasta” foi dada devido à flecha de Cambu que lhe acertou a coxa esquerda, deixando-o coxo, e obrigando-o a arrastar suas correntes. Ele odeia este termo, proibindo terminantemente seus servos de utilizá-lo, sendo esta alcunha mais utilizada por seus opositores.
O único príncipe com quem mantém boas relações é com Heldrom, já que participa de muitos de seus planos e artimanhas. Alguns demonologistas acreditam que a ascensão (ou queda) de Seinoniz para Príncipe Infernal seja mais um dos planos de Heldrom.
Suas sandálias são feitas em cortas negras e trançadas até o joelho, sendo estas feitas de cabelos das vítimas dos que pereceram por pactos passados.
A Chama Infernal: como são conhecidas as chamas das lanternas usadas pelos demonistas que permitem a eles verem o espírito de antigos homens e mulheres que fizeram pacto com Seinoniz. Estas lanternas permitem conjurar almas que serão servos dos demonistas por cerca de 6 dias, podendo ser invocado novamente de forma indefinida.
A cidade é conhecida como Draganazo. A cidade se encontra em uma cratera, sendo que o palácio de Seinoniz se encontra enterrado no ponto mais fundo da cidade.
As casas são simples, muitas delas parecem estar inacabadas e sempre necessitando de uma reforma.
As ruas são em calçamento e cheias de lixo e entulhos, que iriam formar as casas ou que foram geradas por elas. Os condenados deste reino vivem acorrentados a pesadas rochas que são arrastadas ou presas às costas, mantendo-se sempre envergados.
O barulho das correntes enferrujadas se arrastando pelo chão e chocando-se contra as rochas é contínuo e ininterrupto.
Quando havia uma guerra, enviava cavaleiros com seu estandarte para lutar; quando era insultado, contratava um guardião para lhe defender a honra; pagava menestréis para criar contos de vitórias jamais conseguidas, aventuras jamais vistas.
Vivia sempre em sua liteira carregado por escravos, morreu jovem envenenado por uma jovem escrava que havia violado.
Renascido no reino de Seinoniz, Encélado é um guardião paciente preso em uma estaca e acorrentado lá onde vê todos os condenados passarem. Aqueles que o seu mestre não deseja que passem são atacados por correntes que surgem do chão como cobras e os prendem junto a Encélado que os devora lentamente.