Chegou a hora de saber...
O rei entrou em sua sala após inspecionar as muralhas, a dor de seu povo e a proximidade do fim pesavam em seus ombros.O rei Sernaqui havia ascendido ao trono após a morte de seu idoso pai e inicialmente aceitara seu papel como rei-vassalo do Império... Os anos se passaram e a cada ano não se tornava mais fácil entregar os tributos devidos ao imperador Assur. Por fim, chegara o dia que ele tanto temera, chegara a vez da sua cidade ceder dez jovens mulheres como tributo. Os olhares das mães moveram seu coração e Sernaqui conspirou com seis outras cidades-estado uma revolta contra o Império, conseguira até mesmo promessa de envio de mantimentos das Cidades-Estado Díctineas. Mas de alguma forma o imperador descobrira seus planos! Um dos jovens reis que se aliara a ele foi assassinado, três desistiram da revolta e os outros dois sofreram o mesmo destino reservado à ele: As muralhas de suas cidades destruídas e o seu povo escravizado e disperso pelos quatro cantos do Império.
Um homem observava em silêncio o pobre rei perdido em dúvidas, remorsos e desespero. Aguardou imóvel até que o rei se dirigisse à ele: - “E você o que acha?! Eles matarão os meus oficiais com torturas terríveis; empalarão parte do meu povo, escravizarão centenas deles e banirão o resto pelas províncias do Império!”
- “A crueldade dos imperadores aktares é bem conhecida.” - respondeu o homem com uma voz profunda e suave.
O rei caminhou até ele, olhou-o nos olhos e com a voz dos já mortos disse vagarosamente:
- “E quanto tempo, meu amigo, até que esta... crueldade chegue até Tessaldar?”
Assur estava jubilante com sua conquista. As muralhas da cidade rebelde haviam ruído; os oficiais da cidade haviam sido desmembrados; homens, mulheres e crianças (inclusive as da família real) haviam sido empaladas. Assur virou-se para o escriba e ordenou:
- “Registre minhas palavras: Cortei-lhes o pescoço como se fossem ovelhas! Meus corcéis empinados mergulharam no sangue, que jorrava como num rio, as rodas do meu carro de guerra ficaram salpicadas de sangue e sujeira.”
O escriba apressou-se em registrar a auto-exaltação de seu soberano. O rei Sernaqui jazia ajoelhado em uma carroça de bois, seus braços acorrentados a um tronco, seus olhos já sem lágrimas para chorar. Assur parou seu carro de guerra diante de Sernaqui e escarneceu dele:
- “Tolo, só agora entendes a estupidez que é desafiar o poder do Império Aktar e seus deuses supremos Aktur e Tanis!” Sernaqui nada respondeu e Assur afastou-se rindo. Então, aquele que fora um rei virou-se lenta e dolorosamente e olhou para o céu. Um breve sorriso formou-se em seu rosto, pois, no alto, a promessa de vingança voava nas asas de um falcão.
Não são apenas os desertos inclementes com seus perigos e as criaturas que neles se escondem. Existem aqui raças inteligentes compostas de seres que, em sua maioria, se opõe aos humanos. Alguns mais brutais como os skorpios, outros mais ardilosos como os dzarens. Mas não é só isso, aqui nada é certo. Em Tagmar pode-se quase certamente contar com as raças dos elfos, pequeninos, anões e mesmo com a maioria dos volúveis humanos como aliados contra as forças malignas. Orcos, ogros e trolls são monstros terríveis que certamente devem ser eliminados. Aqui elfos e pequeninos não existem e as maiores atrocidades, matanças e desumanidades são cometidas por humanos do Império ou pelos anões Crinsom. Existem diversas histórias de viajantes que tiveram suas vidas salvas por gigantes do deserto, ksaros e até mesmo skorpios. E se os dzarens são ardilosos eles são igualmente honrados, uma vez que deêm sua palavra eles a cumprirão até o fim. Os Reis Feiticeiros ainda existem, ocultos nas regiões mais inóspitas e, algumas noites, seu poder rivaliza com o dos dragões-imperiais. A luta pela sobrevivência é a única certeza, a lei do mais apto é a única verdadeira lei.
Assim como nos Reinos Livres de Tagmar, alguns Deuses se fazem presentes nas religiões do Império. Porém da mesma forma que um bom interlocutor tem que mudar seu discurso para que seja entendido por diversos ouvintes, aqui encontraremos formas diferentes de abordagens destes Deuses. Deuses como Selimom, Lena, Plandis, Cruine, Palier, Parom, Crezir, Quiris e Liris, ainda auxiliam a região, porém não conseguiram se manter nos corações e mentes destes povos, sendo seus cultos totalmente esquecidos pelos seres materiais no Império.
Os povos do Império cultuam basicamente Blator, Ganis, Crisagom, Maira, Cambu e Sevides, não só conhecidos por novos nomes mas também cultuados de forma mais primitiva, pois os deuses do Império estão ligados diretamente a história do reino ou ao povo. Cada reino ou cada povo cultua deuses que assumem traços característicos desses, como se a divindade encarnasse o espírito daquele povo. Alem destes deuses a Titã-Segunda Tanis se faz aqui presente, e seus seguidores se esforçam para que ela seja reconhecida como “Deusa”, não só pelos mortais como pelo próprio Panteão.
Cada povo cultua somente alguns deuses, e a adoração a outros não é proibido, pois ninguém quer desagradar aos senhores do céu, mas tendem a serem vistos com alguma reserva. É mais comum no Império do que em Tagmar o culto aos deuses envolver sacrifícios de animais, uniões matrimoniais (como o casamento sagrado entre os dictíneos) e, dizem as más línguas, até sacrifícios humanos. No Império os deuses estão presentes na vida do povo de maneira mais forte, pois o culto a divindade define também o grau de patriotismo do indivíduo.
Na era seguinte uma sucessão de cidades-estado governou os desertos, estepes, oásis e montanhas. Com o tempo surgiu um império unificador ao norte, o Império Híctio e o mundo conheceu paz. Mas o Império Híctio foi esmagado pelos Arcondi e seus vassalos Tessaldarianos e novamente o mundo conheceu o terror dos Reis Feiticeiros. Após anos de terror os Arcondi foram derrotados e uma miríade de cidades-estado espalhou-se pelo deserto. As diversas cidades proviam sobrevivência, mas também proviam guerras intermináveis. Foi quando aconteceram os milagres.
O grande Deus Aktur apareceu ao jovem rei Senaquerib e disse-lhe: Senaquerib dar-te-ei poder para proteger teu povo e criar um império que trará a paz e a ordem ao mundo.
E então, com o gênio militar que lhe fora inspirado por Aktur, Senaquerib começou a conquista das demais cidades, dando início a formação do Império. Dois meses após a aparição, um dos mais fiéis seguidores de Senaquerib descobriu alguns dos segredos dos Arcondi e com eles a Magia Transmutadora, Senaquerib decidiu usá-la, mas lembrando-se do passado ele criou o edito imperial que determina que toda magia deverá ser estudada e exercida sobre o estrito controle do Estado. A punição para a desobediência à essa lei é a morte. Diversos foram os que protestaram, diversos foram os empalados.
Soldados transmutados foram criados para lutar pelo Império. Por fim, um ano depois, o terceiro milagre aconteceu: Os anões Crinsom chegaram até nós trazendo o culto da divina Deusa Tanis e seu poder flamejante. O Grande Pacto foi então celebrado: Em troca da Magia Magmática que nos trouxe o poder sobre a lava incandescente, os gases da chama eterna e as águas ferventes nós iríamos também adorar a Deusa Tanis e usar nossa magia transmutadora para fornecer aos Crinsom uma mulher de sua espécie, uma vez à cada dois anos. Assim vem sendo a cem anos, assim será eternamente. Com esses poderes o Império Aktar floresceu e trouxe a paz e a ordem ao mundo, cumprindo os desígnios de Aktur. Agora Assur faça o sacrifício e erga-se como Imperador de Aktar!”