“Eu conheço suficientemente os homens de minha terra, seu sangue quente e sua teimosia quando estes acreditam estarem lutando pelo que é justo e certo. Ah, que seja! De nada me importa essas filosofias morais, justiça ou essas baboseiras. Enquanto os de Azanti estiverem lutando contra os magos, a minha única preocupação continuará sendo com a minha algibeira e com meus barris de vinho!! Ah!! Esses magos estranhos nunca me inspiraram confiança mesmo… Hahaha! Que eu e os meus homens possamos, ainda mais uma vez, beber do sangue e do vinho!! Ah!! Que o vento que sopra no mastro do meu navio me leve a incontáveis tesouros, que a Cordilheira da Navalha dure até o fim dos tempos e que as minhas escravas possam me satisfazer mais essa noite…”
Obed, 3º Barão de Porto Livre
“O refúgio dos bucaneiros”, “o reino dos facínoras”, “terra de ninguém”, “maior antro de marginais de toda Tagmar”. Esses são só alguns dos nomes “carinhosos” que esse lugar perigoso e excêntrico, conhecido como Porto Livre, recebe tanto de locais quanto de forasteiros. E eles não estão enganados, O “Porto dos Piratas” é isso tudo e muito, muito mais. Pouquíssimas pessoas de todo o Mundo Conhecido terão realmente a possibilidade de conhecer Porto Livre por dentro, no seu dia a dia, como ele realmente é realmente sob o manto da pirataria. A Mortalidade em Porto Livre são as maiores de toda Tagmar, e não seria por menos, aqui a lei é a do forte, o vilipendio é a arte mais apreciada, e se você não possuir a habilidade de dormir com ao menos um olho aberto, possivelmente nunca mais os abrirá novamente.
Seu clima é o mais Tropical de toda Tagmar, possuindo vasta vegetação característica desse clima (florestas densas e extensas com vários tipos de espécies nativas) o que garante a Porto Livre uma fauna e flora das mais exóticas e exuberantes de todo o Mundo Conhecido. A área mais próxima da cordilheira possui um clima mais ameno. A floresta no sopé da cordilheira possui uma coloração mais cinza, é mais seca, e de certa forma menos densa.
Porto Livre situa-se no extremo leste do Mundo Conhecido, e possui em toda a sua porção oeste a proteção natural da Cordilheira da Navalha, que separa fisicamente do restante de Tagmar. Se não fosse a Cordilheira, Porto Livre faria fronteira com as Cidades-Estados, Luna e Portis. A lógica leva a supor que existe alguma estrada e ou forma de acesso entre Portis e Porto Livre através da Cordilheira da Navalha, haja vista a aliança entre os dois “reinos”. Seu extenso litoral é o mais perigoso conhecido, onde somente navegadores que realmente conhecem o local, conseguem atravessar a traiçoeira barreira de recifes da costa porto-livrense: os recifes de Gandara ao norte, e os recifes do Tubarão, ao sul. Existe ainda um rio maior que divide o reino em três partes principais, o Rio Lâmina. A cordilheira é pouco explorada, e, dizem, cheia de perigos e criaturas.
Se não fosse por Porto Livre ser um local totalmente desaconselhável para forasteiros, poder-se-ia dizer que seu comércio seria de longe o maior de todo o Mundo Conhecido. Porém Porto Livre prova de seu próprio veneno no que diz respeito a abrir suas fronteiras para compradores externos, devido a óbvios problemas com quase todos os outros reinos conhecidos, o comércio de Porto Livre é extremamente limitado, por isso o grosso das mercadorias adquiridas através das pilhagens são escoadas para o Mundo Conhecido através de Portis, principalmente Runa e Maginor. Os recifes são tão mortais que até para atracarem em portos de outros reinos, as bandeiras de Porto Livre tem extrema dificuldade. Fato que é uma pena não só para os piratas de Porto Livre que buscam por Cambu enriquecer como objetivo máximo de suas vidas, mas também para os possíveis compradores.
Mas para aqueles que têm livre acesso a suas terras, sabem que em meio a tantos problemas, é possível de se encontrar muitos prazeres. É sabido, por exemplo, que o “serviço de acompanhantes” das tabernas portolivrenses é o melhor de todo o Mundo Conhecido. E se você puder pagar um bom adicional pela companhia, certamente a desfrutará embalado pelo sabor de um ótimo vinho de Conti. Outra atividade também muito desenvolvida em Porto Livre são os campeonatos de lutas. Estes possuem diversas modalidades e podem-se encontrar lutas de homens contra homens, homens contra monstros e monstros contra monstros. Tudo de acordo com a vontade do freguês. Não raro essas lutas são vencidas com trapaças bem urdidas, ou até mesmo “descaradas”. Em muitas “casas de luta” existem até uma bolsa de apostas onde os espectadores podem fazer suas apostas e talvez ganhar algum dinheiro enquanto aproveitam o espetáculo. Qualquer um pode lutar, seja livre ou escravo, pode-se até apostar em si mesmo, algumas pessoas inclusive, até ganham a vida dessa maneira. Nos dias atuais o grande campeão e ídolo das multidões que lotam as “casas de luta” é um orco gigantesco, de aparência assustadora, que atende pelo nome de Bunk. Qualquer um pode desafiar o campeão, até mesmo sem nunca haver lutado antes. As apostas nas lutas contra o campeão variam em torno de 30 contra 1, a favor de Bunk logicamente. Bunk já mantém o título há três anos consecutivos, e dizem os mais impressionáveis que não há quem possa vencê-lo em combate corpo a corpo dentro da jaula.
Um fato importante a se considerar é o poder que esses barões detêm sobre todos, ou quase todos os piratas do Mundo Conhecido, mesmo aqueles que teimam em navegar sob sua própria bandeira. Por que mais cedo, ou mais tarde todos os piratas acabam necessitando de desaparecer do mundo por uns tempos, e para tal não há nada como passar uma temporada em terras portolivrenses. Outro fato importante é que cedo ou tarde, os piratas independentes se deparam com um outro navio pirata a disputar um navio mercante, e em verdade não é muito saudável querer competir com os barões no jogo deles. Por tudo isso, mais dia menos dia, esses indivíduos se vêem obrigados a jurar lealdade a um dos barões, devendo como tributo, entregar um quinto de todo o seu butim ao seu “padrinho”. Essa “regra do quinto” é extremamente respeitada, e muitos que se julgavam muito espertos, já morreram por estarem burlando esse “sacro acordo” entre os bucaneiros. Às vezes pode parecer até que há de alguma forma honra entre os piratas, ainda que seja algo muito diferente da honra tradicional (Crizagom que o diga). Ou talvez seja simplesmente a consciência que aqueles que se recusarem a pagar tributo, correm um sério risco de ter assassinos raivosos no seu encalço pelo resto da vida.
Em verdade a “justiça” porto-livrense é extremamente eficaz. Crimes dentro de navios e entre piratas de uma mesma nau são julgados diretamente pelos seus capitães. Disputas legais entre piratas de um mesmo baronato e naus diferentes são debatidas entre os capitães das naus e, caso não haja uma solução “pacífica”, essas são julgadas pelo respectivo Barão. Numa última instância, piratas de baronatos diferentes são julgados por um Barão. Geralmente, quando um pirata é acusado, devem-se apresentar provas ou testemunhas do delito cometido. Não tendo como se defender, o pirata deve pagar ao acusador uma quantia maior ou igual ao seu prejuízo ou virar seu escravo. Existe um último apelo que é o duelo. Um pirata não pode nunca recusar o duelo de outro pirata, a não ser que ele seja um Barão ou que esteja num momento de guerra. Um ato de desobediência a uma penalidade imposta em julgamento é considerado motim, e é punida com a morte. Vale salientar que acusações contra superiores hierárquicos diretos também são considerados motim. Geralmente, quase a totalidade das vezes, toda essa burocracia é deixada de lado e os piratas duelam. Quem conseguir ficar em pé (ou ficar vivo) é o vencedor.
Atualmente Porto Livre vive um clima de calma, se é que se pode chamar a vida de um pirata de calma. Apesar de o Mundo Conhecido viver dias conturbados, hora por guerras em busca de território, hora por influência da Seita; no que diz respeito especificamente a Porto Livre, os bons laços políticos com Portis têm tirado os piratas das piores encrencas. Foram várias as tentativas, de vários países, de firmar um acordo para atacar Porto Livre através de Portis, mas para a sorte dos bucaneiros, estas até os dias atuais foram sempre frustradas, graças a inúmeras intervenções, tanto políticas quanto diplomáticas, dos Barões junto aos magos Portinenses. Os saques a navios de Verrogar e das Cidades-Estado foram temporariamente suspensos por serem considerados muito perigosos no presente momento, isso pelo menos é o que pensa a alta administração dos magos de Portis. Mas na prática eles nunca deixaram de acontecer, a coisa só está sendo feita de uma forma mais discreta. Quando acusados, os piratas de Porto Livre estão sempre prontos a negar até a morte qualquer indício de desrespeito desse “acordo informal”, entre os altos magos e os Barões.
A boa vida de vilipêndios segue sem paradas, e os Barões já perceberam que os navios verrogaris geralmente vêem acompanhados de navios de guerra ou camuflados, para passarem-se como navios mercantes, com a finalidade de pegar desprevenidos os piratas Portolivrenses.
Azanti é verdadeiramente uma pedra no sapato de Porto Livre. Como o maior poder dos Barões está no mar, eles “não conseguem” ajudar efetivamente Portis contra as incursões armadas de Azanti, que aparentemente tem sido temerários o bastante, para atacar diretamente a Portis e ganhar assim uma vantagem decisiva em uma guerra aberta contra Porto Livre. Isso começa a preocupar os Barões que vêem nesse ato pequenino, porém incômodo, uma possível invasão à Portis e assim a total exposição de sua fronteira oeste a um derradeiro ataque terrestre. Mas para os Barões as coisas são bem claras, enquanto os exércitos Azantianos estiverem atacando Portis, menos mal, melhor eles que nós, e acaso os azantianos vençam os exércitos portinenses, o que não se mostra provável, pelo menos não pelas próximas décadas, eles ainda terão a boa e velha Cordilheira da Navalha entre eles e os seguidores de Crizagom.
Luna, o reino mais próximo depois de Portis, dizem que estava estruturando uma invasão para retomada das terras de Porto Livre, e dizem que este teria como estratégia um caminho seguro através dos recifes do Tubarão, grande o bastante para atravessar sem ser notada uma grande esquadra até que fosse fatal para os piratas. Infelizmente a peste lunense, bem como os problemas políticos e econômicos internos, fizeram com que toda uma possível preparação de um ataque à Porto livre fosse adiada até uma suposta reestruturação do reino, se é que isso vai ocorrer.
Os outros reinos têm tomado suas cautelas rotineiras, mas sempre deixando falhas que são muito bem exploradas pelos piratas. As cidades costeiras são sempre alvos muito bons, ainda mais para a captura de escravos, que são vendidos a um alto preço na capital, Quessedir. As expedições para Portis também trazem muitos lucros, mas essa atividade obviamente tem seus riscos. Infelizmente, devido ao tratado, não se pode recusar uma solicitação de tripulação e navio para fins de exploração portinense.
Os deuses mais cultuados nesse reino são Crezir e Ganis, sendo que Ganis impera soberana dentre os mais velhos, entre eles, a maioria dos Barões, grandes capitães, pequenos, médios e grandes pescadores. Crezir vem destacando-se cada vez mais dentre a equipagem, onde se encontra os bucaneiros mais aguerridos de todo o Mundo Conhecido. Os mais jovens de Porto Livre vêem adotando cada vez mais Crezir como deusa principal. Lena também é cultuada por grande parte da população, sendo seus devotos em sua maioria “os de terra”, aqueles que buscam outras formas de vida que não a pirataria e o mar. Sabe-se que os Barões, sem exceção, são assíduos frequentadores do “Jardim das Delícias” da deusa, e que a Sumo Sacerdotisa é protegida dos mesmos. O deus menos, ou melhor, não cultuado (ao menos abertamente) em Porto Livre por motivos óbvios, é o irmão gêmeo de Crezir, Crizagom. Selimom vem logo em seguida, mas de fato, as pessoas mais humildes costumam preferir paz à guerra. A pesar de seu bom clima, Porto livre não explora seu potencial agrícola, talvez seus cidadãos estejam por demais acostumados a “boa vida”, para darem duro na lida do campo. Portanto, Sevides também quase não é cultuado na terra dos piratas. Há uma total ausência de sacerdotes desses deuses em Porto Livre, principalmente sacerdotes de Crizagom, que não tolerariam jamais conviver no meio de pessoas tão ímpias.
Essa mistura toda não se deve somente a raça dos humanos, que por natureza é a mais caótica de todas, mas aqui em Porto Livre isso se estende a todas as outras raças. Agrupamentos de anões ladinos vindo de todas as partes de Tagmar, desde as terras selvagens do Forja até as pérolas do norte. Guildas inteiras de habilidosos pequeninos igualmente diversos etnicamente. Inúmeros bandos nômades de Elfos Florestais advindos dos quatro cantos do Mundo Conhecido, cruzando o horizonte de tempos em tempos e assombrando os mares com sua espantosa graça e agilidade, de dentro de seus esguios e rápidos navios de proa alta. E dizem alguns boatos que até Elfos Dourados podem ser encontrados se procurados com bastante atenção. Por tudo isso sua população é sem dúvida a mais heterogênea de todo Mundo Conhecido.
Geralmente ser um pirata é viver a vida um dia de cada vez, do jeito mais aventureiro possível, aproveitando todas as delícias do momento como se estes fossem os últimos, sem ligar para as suas consequências, por que na verdade eles podem ser. Beber, comer, saquear, lutar e (se Cambu ajudar) ficar rico no final é o desejo máximo, mais ardente de todo o pirata. Mas além de viver dos saques a navios, muitos portolivrenses dedicam-se a arte do comércio conhecido nessas terras como “As tendas negras”, onde vários artigos estão à disposição para venda, inclusive escravos. Dentre esses a fé em Cambu começa a tornar-se crescente, mas em verdade os bucaneiros ainda são comerciantes medíocres, muito inferiores aos grandes devotos do deus do comércio. Mas de qualquer forma esse comércio parece estar crescendo rapidamente dentro dos baronatos, dizem até que existem comerciantes planenses envolvidos nessa atividade.
Mas nem sempre foi assim. No princípio a influência dos Barões na capital oscilava ao sabor da maré, e o comando da mesma já passou de Barão em Barão, quase que para todos eles, sendo que Glauber “A raposa dos mares” de Plana, foi o Barão que manteve seu jugo por mais tempo, e Tealor “o camaleão” de Novo Porto, o único a nunca tê-la comandado. Fato esse que culminou em inúmeras disputas e acabou por custar à vida de um Barão e de muitos piratas. Primeiro Obed “O velho lobo do mar” de Filanti matou Tíbias “o coxo” de Abadom (antigo Barão a quem sucedeu Tealor) com uma bela machadada na cabeça.
O processo de sucessão de Tealor a Barão dentre tantos outros capitães de Tíbias foi um verdadeiro inferno, e aqueles mais antigos podem afirmar que Porto Livre nunca viu dias tão sangrentos. Por fim, quando Porto Livre se afundou em sangue por uma segunda vez e Melkair “O leão das ondas” de Verrogar, quase arrancou a cabeça de Ulisses “O mirmidão” de Conti, com uma bela espadada que lhe custou o olho esquerdo e por muito pouco não lhe custou à vida, em uma outra contenda por influência na capital, os Barões decidiram que isso tinha que acabar antes que acabasse com eles.
Após os ânimos se acalmarem, um concílio de paz foi arranjado as pressas dizem por idéia de Glauber, e foi nessa “união dos poderes” que ficou decidido que nenhum Barão mais teria julgo sobre Quessedir, mas sim que todos teriam poder igual sobre a mesma. Fato esse que é observado bem de perto por todos eles até os dias atuais. As terras de Porto Livre foram então divididas em sete Baronatos, e Quessedir ficou sendo o grande ponto neutro dessa divisão. Na prática os Barões quando estão em terra, passam a maior parte do tempo em Quessedir, e ninguém que já passou pela capital deixou de ver ao menos uma das sete magníficas construções que abrigam os líderes dessa terra de maravilhas.
De fato Quessedir é a maior e mais bem estruturada e é lá que os piratas costumam negociar suas partes no butim, e também gastar seu dinheiro. Em verdade, qualquer viajante que esteja passando pelas terras portolivrenses, só terá livre acesso a Quessedir, o ingresso às terras dos Barões para desconhecidos só se dá mediante à salvos condutos devidamente selados. Caso algum forasteiro seja pego invadindo acidentalmente ou não algum baronato, ou ele não vai sair de lá (mais provável), ou vai ser “gentilmente” convidado a sair das terras.
Os bucaneiros sempre que voltam do mar, costumam passar em Quessedir a fim de se interarem das novidades, trocarem mercadorias e divertirem-se um pouco.
Tudo isso faz com que os mais fantásticos relatos desembarquem junto com os tripulantes nas terras de Porto Livre. Uma dessas histórias afirma que existe um navio fantasma que ataca todos os navios que passam por Abadom, inclusive os de Porto Livre. Que seu capitão é o falecido Tíbias, que sua tripulação é composta da antiga equipagem, agora mortos vivos, e que em sua bagagem estes carregam o tesouro de vários navios que eles já saquearam.
Dizem que esse navio fantasma singra errante pelos mares de Abadom, surgindo sempre por detrás de uma forte neblina, e que nas noites de calmaria, pode-se ouvir o fantasma do velho Tíbias gritando o nome de Obed. Não se sabe ao certo se isso é fato ou não, se é só mais um conto para amedrontar os marujos, ou se é uma quimera para esconder um ato de alta traição de algum Barão. Mas a citação de seu fabuloso tesouro sempre faz brilhar os olhos dos que escutam tais histórias. Ao que parece Obed evita tocar nesse assunto, assim como a maioria dos Barões.
Outra história, essa contada por Glauber, é de que uma vez seu navio foi transportado para um local diferente de Tagmar, onde havia monstros que nem se quer existiam nesse mundo e a mágica funcionava de forma diferente.
Existe a lenda da cidade submarina de Suleimam, que ficaria situada na costa da Levânia, e onde vários navios estariam afundados, e onde existe uma raça de homens-peixe que guarda conhecimentos há muito perdidos no mundo. Os capitães e tripulantes de Aleik “O chacal da Levânia”, costumam contar essa história com muito entusiasmo.
É de domínio público que Elber “A águia” de Calco e Ulisses são próximos, ao menos na medida dos piratas, alguns dizem até que são parentes, o que na pior das hipóteses significa que eles são aliados. É também sabido que Obed e Melkair também se entendem melhor que com os outros Barões. Também não é novidade que Ulisses e Melkair, apesar do pacto de não agressão, são inimigos jurados. Aqueles mais próximos aos Barões sabem que Glauber por mais diplomático que seja, de forma muito discreta pende mais para o lado de Ulisses e Elber. Frente a esse cenário, fala-se a boca pequena, que está se formando uma aliança entre Obed, Melkair e Aleik, com fins de um confronto direto contra os outros três capitães, e consequente tomada do poder. O grande trunfo na manga dessa guerra, aparentemente é o mais novo de todos os Barões, que parece fazer jus a seu apelido de camaleão, e muda de expressões e promessas como o animal muda de cor, ao que parece, o que mais preocupa Tealor é a hipótese dele tornar-se dispensável quando do fim desse embate.
Dizem outros rumores que Verrogar já está cansado de ter seus navios vilipendiados pelos piratas portolivrenses e que em sigilo já ativaram as engrenagens de guerra verrogari, e preparam-se para uma guerra naval contra os piratas de Porto Livre. A grande questão é que até aonde se sabe os verrogaris são navegantes muito inferiores aos portolivrenses, logo ou eles evoluíram muito nesse sentido, ou contam com o apoio de um aliado que até agora é uma grande incógnita.
Outros rumores dão conta de que o Duque de Azanti encontra-se já em vias de fato de firmar um acordo de aliança entre Azanti, Calco e Conti para uma guerra aberta contra Porto Livre. Onde Azanti forneceria ouro e tropas terrestres, e Calco e Conti, víveres e o contingente marítimo. A probabilidade de isso acontecer pode aparecer pequena, mas em verdade Azanti é inimigo declarada de Porto Livre, e Calco e Conti, também não morrem de amores pelos piratas, uma vez que seus navios mercantes são também constantemente atacados. Dizem que quem está tomando conta dos detalhes desse empreite na porção norte de Tagmar são as lideranças da Ordem da Grande Mãe, que parecem possuir um interesse pessoal nesse caso, algo como uma Ordem rival de Ganis em Porto Livre. Ao que dizem, o Duque buscou uma aliança com Conti, e a Ordem tomou a frente das negociações, e que essa também foi a grande responsável por convencer a Calco entrar nessa guerra.
Dentre tantas teorias de conspiração alguns chegam a afirmar que os altos magos de Portis estão executando manobras para usurparem o controle de Porto Livre das mãos dos Barões, anexando assim as terras portolivrenses ao “reino” de Portis, e expandindo as fronteiras até o mar. Fato que realmente seria muito interessante para os portinenses, até por que eles não teriam mais que pagar caro pelos serviços prestados pelos piratas, sem falar que teriam livre acesso à exploração as terras portolivrenses, que aparentemente escondem mais segredos que se pode ver da superfície. Um exemplo forte disso seria a exploração das montanhas da cordilheira da Navalha, ninguém sabe ao certo quais os segredos que ela abriga, e no mínimo é bem provável que existam pelo menos grandes jazidas de metais e pedras preciosas.
Falam que a magia e os magos “podem andar livremente” em Porto Livre, e que segundo as ordens dos Barões os magos portinenses tem livre acesso às terras de Porto Livre, mas nunca se ouviu uma história de magos que sejam de Portis, ou não, que tenham andado pelas terras de Porto Livre e saído vivos. Dizem que a magia é vista pelos piratas com extrema superstição, o que não seria para menos, pois não é fácil se aceitar que um navio que já afundou tantos outros navios e sobreviveu aos mais aterrorizantes combates navais, possa cair facilmente frente o poder de um único homem, mediante a uns poucos gestos e algumas palavras sem sentido. Falam que nem mesmo a proximidade com Portis tem contribuído para diminuir essa atitude, muito pelo contrário. Não há relatos que existam colégios de magia em Porto Livre.
Glauber nasceu em Plana, terra dos negociantes, e lá se criou como um planense típico. O fato é que em sua juventude Glauber tinha um grande ponto fraco, mulheres, e se envolveu com a filha e a esposa do violento capitão da cidade, Bofur. Quando Bofur ficou sabendo do envolvimento de Glauber com sua “inocente” filha, este tremeu de raiva e exigiu reparação por meio do casamento dos dois jovens. O problema é que quando a mãe da menina ficou sabendo do envolvimento de seu amante com sua filha, perdeu completamente o juízo e revelou toda a verdade a seu marido. Bofur de pura indignação matou a esposa e mandou prender a filha, não sem antes jurar Glauber de morte. Glauber teve que fugir de Plana para sobreviver, deixando tudo para trás, famílias, bens, conhecidos, etc.… Glauber acabou por se envolver com alguns bucaneiros no Denégrio e o destino o fez subir pela primeira em um navio. O que segundo Glauber foi amor “à primeira vista”, e esse nunca mais quis abandonar a vida da pirataria. Hoje com sua veia de comerciante e negociador ainda mais apurada, Glauber guia os outros Barões de forma que nem eles percebam.
Ulisses nasceu predestinado a ser um grande homem do mar, filho de um simples pescador, sua mãe profunda devota de Ganis. Seu nascimento se deu dentro do templo, em meio às sacerdotisas, que auxiliaram sua mãe a dar-lhe à luz. Dizem que uma das sacerdotisas, grande amiga de sua mãe, presenteou o recém nascido com um amuleto em forma de concha que lhe traria fortuna e sorte nas águas de Ganis. Ulisses cresceu dentro de barcos pesqueiros e em estaleiros ajudando a fazer e consertar o que ele mesmo chama de sua paixão maior, barcos. Aos 15 anos Ulisses com as graças de Ganis ingressou na marinha de Conti. Aos 30 anos este chegou a patente de capitão. Foi aí que a inveja finalmente alcançou Ulisses e esse se envolveu em uma escaramuça com outro Capitão de Conti conhecido por sua má índole. A contenda acabou pior para o outro Capitão e Ulisses foi acusado de alta traição por atacar um colega de profissão. Para não morrer na forca, Ulisses agrupou seus homens de maior confiança e singrou os mares até que chegou a Porto Livre.
Pouco se sabe sobre a vida de Obed, mas o que se sabe é que este teve um começo de vida muito parecido com a de Ulisses. Acredita-se que Obed seja natural de Verda, e que também muito jovem adentrou a marinha Filantiana. Os rumores falam que Obed também foi um grande carreirista, e que em pouco mais de vinte anos de serviços esse alcançou a patente de Capitão. Porém as estórias dão conta de que Obed fora atacado por piratas portolivrenses e foi quase morto. Inclusive esse episódio lhe valeu a perda de sua mão esquerda. Sem uma das mãos Obed foi considerado incapaz de continuar exercendo suas funções e foi “aposentado”. Insatisfeito com seu destino e profundamente ofendido com a atitude de seus superiores de Filanti, Obed reuniu uma tripulação fiel de bucaneiros filantianos e “roubou de volta” seu navio de guerra da frota de Filanti e partiu no encalço daqueles que lhe tinham arrancado a mão. O fato é que Obed não poderia mais retornar ao seu reino, e então esse buscou refúgio nos recifes portolivrenses, atacando algumas embarcações para sobreviver do saque, quando esse se deu conta, já era um dos piratas mais procurados dos mares de Tagmar.
Melkair tornou-se escravo e limpou por vezes demais o convés de uma embarcação. Violento e destemido, Melkair fez o que se poderia dizer de “carreira na pirataria”. Devido a sua extrema habilidade em combate com a espada curta esse em pouco tempo foi “promovido” a bucaneiro. Sua sede de riquezas e sua determinação de ferro o levou ao longo de toda a hierarquia dos piratas, e Melkair nunca estava satisfeito, este sempre queria mais. Melkair deixou um verdadeiro rastro de corpos pelo seu caminho, e até para os padrões dos piratas. Por fim Melkair se fez Capitão ao matar em combate o Capitão a que servia. É claro que o Barão a quem esse capitão servia, Tíbias “O coxo”, tentou eliminar Melkair, mas esse havia crescido tanto em poder que os outros Barões não tiveram nada mais a fazer que “abrir espaço” para Melkair se tornar um deles.
Devido a suas origens e sua história de escravidão, Melkair tornou-se um ser sem o menor traço de humanidade que busca livrar-se de seus opositores sempre destruindo a todos bem como tudo que há no caminho.
O excepcional e inegável talento para a ladinagem de Aleik (que ele chama de talento para sobrevivência) fez com que esse fosse de certa forma bem próspero dentro da guilda, mas como as guildas, especialmente as de ladrões, costumam possuir uma hierarquia bem rígida e completamente desconfiada, Aleik começou a se sentir preso e sufocado pelos seus superiores. Um belo dia, com mil idéias sobre como poderia deixar a guilda local e se safar, pois esse tipo de associação não costuma aceitar bem desistências em suas colunas, Aleik assistiu um ataque pirata ao porto de Ingru, e vislumbrou nessa cena aterradora sua rota de fuga. Quando a milícia de Ingru conseguiu expulsar os piratas sobreviventes do porto, estes singraram os mares com Aleik escondido dentre os barris de cerveja. A história mais contada nos dias atuais é que Aleik conseguiu furtar algumas roupas de um bucaneiro que havia morrido no ataque e habilmente “tomou seu lugar” na tripulação. O que aconteceu de fato ninguém sabe, mas o certo é que Aleik virou um pirata conhecido e hoje é um dos Barões de Porto Livre.
Os dias que restavam ao velho Emeric foram de fato mais alegres com a presença de Elber.
Elber cresceu sonhando em um dia poder viver tantas coisas maravilhosas quanto Emeric havia lhe contado. O velho Emeric morreu, mas seu legado ficou vivo na mente e nos sonhos do jovem Elber que acima de qualquer coisa desejava poder se tornar um bucaneiro de Porto Livre e velejar os mares de Tagmar sob a bandeira da pirataria. Elber não tinha uma vida das mais difíceis, seu pai era um conhecido artífice da cidade e acompanhou com bastante orgulho o interesse do filho por carpintaria e engenharia náutica. Elber cresceu e seu tornou um bom artífice, mas sua carreira não durou mais que o seu primeiro barco. Quando este já era um jovem conhecido construtor de navios, sua fama mais o nome de Emeric lhe valeram os contatos que Elber tanto esperou ao longo de sua vida, e antes que seus pais pudessem dar por sua falta, Elber já tinha colocado seus pés em um navio pirata. De bucaneiro mestre-artífice à Capitão foi só questão de trabalho árduo e alguns saques bem sucedidos.
Tealor como sua alcunha supõe é uma pessoa extremamente capaz de sobreviver as “mudanças” do ambiente, sendo inclusive um mestre dos disfarces e um ladino muito capaz, o que já lhe permitiu alguns bons saques em terra, coisa rara em Porto Livre. Dizem que sua especialidade é invadir grandes festas, disfarçado como convidado e coletar algumas boas informações a cerca de cargas valiosas a serem transportadas nos dias vindouros. Tealor é uma pessoa extremamente esquiva que não nega nem afirma, e não promete para não ter que voltar atrás. Procura sempre que em conversa com os outros Barões, ou alguém poderoso, a se pronunciar com frases vagas e de duplo sentido, inclusive essa neutralidade excessiva de Tealor causa bastante desconforto nos outros Capitães, pois estes nunca sabem o que esperar dele. Em verdade Tealor a exemplo de seu barco navega sua lealdade ao sabor da maré, e sempre que possível vai “vestir a camisa” do time que está ganhando, nunca fechando as portas que deixou para trás para poder voltar se necessário for.