Parecia ser uma caverna, onde havia uma estranha iluminação que mantinha o lugar todo na penumbra. Não era muito claro, mas o suficiente para enxergar. As paredes eram compostas de rocha maciça até o teto. Ao seu lado, Crassius via inúmeras pessoas tão confusas quanto ele; procurou por sua arma, para o caso de ter que se defender, mas não a encontrou.
- Será que fui feito prisioneiro? - Ele se perguntou.
Subitamente, um rosto conhecido o faz lembrar-se do que havia acontecido.
Estava no meio de uma guerra, que por sinal estava bem equilibrada, nenhum dos lados parecia levar vantagem. Crassius, que comandava uma tropa, decidiu por em prática uma manobra arriscada. Conhecia bem aquela região e sabia de um caminho secreto que levaria direto para a retaguarda do inimigo e, então, à vitória. Contudo, não contava com um traidor, seu próprio irmão, que conhecia a passagem e a revelara ao inimigo em troca de dinheiro e um cargo importante.
Crassius, que pensava pegar o inimigo de surpresa, é quem foi surpreendido. Rapidamente, sua tropa foi aniquilada. Furioso pela traição, Crassius disparou seu arco contra seu irmão que ria no alto de um penhasco. O tiro foi fatal, Crassius podia jurar isso. Então, como poderia estar ali naquele lugar com ele?
Crassius nota que seu irmão também o havia visto e percebe o olhar de pavor que este lhe lançava. Ele corre em direção a Crassius, atravessa a multidão e, segurando-o com força, exige uma explicação do que está havendo.
- Não pode ser... eu vi você morrendo - Crassius ouve seu irmão dizer. O pavor estampado em seus olhos revela que ele diz a verdade. Crassius havia recebido um ferimento mortal e, antes de morrer, disparara contra o seu irmão. Agora se lembrava de tudo.
Subitamente, um barulho de trovão ecoa. Adiante, surge um trono de pedra e uma estranha figura sentada nele. Um homem vestido de negro, com uma coroa negra na cabeça. Conservava a cabeça baixa, e seus longos cabelos negros impediam de ver seu rosto. Mas isso não era necessário. Crassius sabia muito bem quem era: Cruine o deus da Morte e da Vida, e aquele era o seu reino.
Extratos do Livro de Maudi - Biblioteca de Saravossa.
Sua neutralidade só cede ao lidar com mortos-vivos e demônios, seres pelos quais nutre extremo ódio e repulsa. Seus sacerdotes são impelidos a desenvolver os mesmos sentimentos por tais criaturas, pois elas deturpam o ciclo natural da vida, principal preocupação do deus.
Cruine costuma sentar-se em seu trono e ficar lá por séculos, cabisbaixo e com seus longos cabelos cobrindo-lhe o rosto. Silencioso e observador, quase nunca deixa seus domínios para se preocupar com assuntos do mundo superior. Apesar de sua aparência e imparcialidade, Cruine é também conhecido como hospitaleiro, pois em seus domínios sempre terá lugar para mais uma alma e, ao contrário do que muitas pessoas pensam, Cruine não é o deus da morte, e sim do pós-morte, e também um símbolo de ressurreição e renovação, provando que novos brotos estão sempre prontos para brotar e substituir aqueles que tenham caído em decadência.
Palier costuma dizer que decifrar os sentimentos de Cruine é tarefa impossível até mesmo para ele. O deus da Morte e da Vida é a personificação exata da tarefa que ele desempenha: imparcial, silencioso e discreto.
Outro símbolo, menos difundido, é a alternância cíclica entre o dia e a noite (um círculo metade preto e metade branco) este símbolo faz alusão ao ciclo da vida e da morte.
Blator ensinou seus filhos (Crizagom e Crezir) a respeitarem o deus da morte e da vida, pois a guerra sem a morte não seria a mesma.
Assim, Crizagom costuma tomar parte dos julgamentos de Cruine, intercedendo pelos que agiram com justiça e cobrando duras penas para os que agiram com malícia e maldade. Durante a guerra contra a Seita, Blator reunia-se frequentemente com Cruine, todavia ninguém sabe o que discutiam. Quanto a Crezir, dizem que ela é a preferida de Cruine; porque, após longos anos de aparente imobilidade em seu trono, Cruine elevara a cabeça para olhar a entrada de Crezir, que viera pedir-lhe que permitisse a um de seus sacerdotes favoritos o retorno ao mundo dos mortais, a fim de que este obtivesse sua vingança. Desde então, espalhou-se o boato da preferência de Cruine por Crezir, mas nem mesmo a deusa ousou descobrir a veracidade desse boato.
Cruine possui um único dia em sua homenagem, que é o último do ano, simbolizando o fim de um ciclo e o início de outro.
Pela manhã, é comum as mulheres grávidas, ou com filhos recém nascidos, irem a templos dedicados a Cruine para serem abençoadas. A tarde é marcada por visitas a cemitérios com orações feitas em honra aos mortos. À noite, é realizada uma ceia na qual é reunida toda a família. Um lugar à mesa é separado e deixado vazio, significando que Cruine tem um lugar naquela casa. Em alguns lugares esse dia é feriado.
Como a realidade da morte é algo frequente, Cruine é respeitado e, por vezes, temido. Cada tagmariano tem um jeito específico de respeitar e render homenagem a esse deus, mesmo que seja adorador de outra divindade.
Os sacerdotes também cuidam dos ritos fúnebres, seja de grandes reis, seja de simples aldeões. Por isso, há sempre um templo de Cruine próximo a um cemitério, que geralmente é administrado por esses sacerdotes.
As sacerdotisas de Cruine são conhecidas por serem hábeis parteiras, já que Cruine é também o deus da vida, que cuida e rege as reencarnações, e um nascimento é considerado parte do ciclo natural da vida.
Os cemitérios são localizados na parte do fundo do terreno do templo. No porão, os corpos são embalsamados e preparados para serem velados, é onde os corpos são lavados e tornam-se aparentáveis aos visitantes do funeral.
Locais sagrados
Em Tagmar o principal local dedicado a Cruine fica nas cavernas da cordilheira da Navalha, em Luna. Lá se encontra um grande santuário subterrâneo dedicado a esse deus, onde está situada a sede da Ordem da Noite Eterna, fundada por Galana, ser morto-vivo que arrependeu-se de seu destino. Segundo a lenda, Galana recebeu instruções do próprio Cruine, sendo acolhida em seu reino após a fundação da ordem.
Existem outros templos considerados importantes. Um grande Templo edificado em Dameste, próximo à fronteira com o campo branco. Nele os sacerdotes rezam pelo descanso dos fantasmas do campo branco. Na mesma linha, há outro templo em Telas onde os sacerdotes rezam pelo descanso dos zumbis d'Os Mangues. Mas o maior templo está em Saravossa e, junto a esse, o maior cemitério de Tagmar, onde grandes reis estão enterrados lá, e por ocasião do dia de Cruine muitos peregrinos visitam esse cemitério para rezar.
O Anel do Juiz Perfeito: É um anel que dá ao portador a capacidade de ver se alguém é culpado ou inocente de um crime do qual esteja sendo acusado.
O Espelho de Cruine: Um espelho grande, que dizem ser o portal para o reino dos mortos. Porém, ninguém sabe se ele realmente existe. Dizem que na parte de cima do espelho está escrito: “Deixai para trás toda esperança vós que entrais no Reino de Cruine.”
Joia de Cruine: Suposta pedra negra e ovalada com a qual diz-se poder entrar em contato com o próprio Deus, em seu Reino.