As ferramentas sempre limpas e cuidadas são pegas e seus dois filhos mais velhos se preparam para acompanhá-lo neste novo dia de serviço. Da varanda de casa pode olhar o campo dourado de trigo e a suave brisa balançá-lo. Seus olhos se enchem de lágrimas e o orgulho parece explodir em seu peito.
Por alguns segundos nada nota de diferente até que no horizonte pode ver uma pequena nuvem se formando. Em seus pensamentos abençoa as chuvas que trarão mais vida à terra, mas nota que a nuvem negra de tempestade está caminhando contra o vento e se aproximando rapidamente e rapidamente o sentimento de alegria dá lugar ao desespero, quando percebe que a nuvem não é de chuva, mas um enxame de gafanhotos que se lança ferozmente contra os campos de trigo.
Em poucos minutos tudo está coberto de gafanhotos que se alimentam vorazmente de tudo que encontram a sua volta.
Os minutos se transformam em horas e o desespero cresce a cada segundo. Por mais que sacudam tochas no ar, a plantação está perdida e antes do final do dia, dezenas de hectares estão perdidos, totalmente destruídos pelos gafanhotos. O final do dia chega e agora Galnis não sabe como irá honrar as dívidas assumidas. Apesar dos apelos de sua mulher, ele caminha à noite preocupado com o futuro até ouvir o bater na porta.
Quem poderia ser a uma hora dessas? Pensa, enquanto abre lentamente a porta e percebe se tratar do novo vizinho.
Eles conversam sobre o acontecido e apesar de grande parte dos agricultores locais terem perdido sua colheita, ele foi um dos poucos que não teve este infeliz destino e propõe a compra da dívida de seu vizinho até que no ano que vem ele possa saldar sua dívida.
Alegremente Galnis assina um documento e recebe seu dinheiro. Graças a Sevides, agora tenho tempo para uma nova colheita - pensa aliviado. Infelizmente no ano seguinte a misteriosa nuvem retornou, engolindo o trabalho de um ano inteiro. Sem ter como pagar, Galnis é obrigado a entregar sua fazenda, sabendo que não foi um mau negócio totalmente, já que a terra vinha perdendo sua força há algum tempo. Ele parte, deixando para trás sua história e sua fazenda, migrando para as cidades como tantos outros que perderam suas terras no reino de Portis.
Extraído de O Livro de Maudi, do capítulo “O Enxame Faminto” Biblioteca de Saravossa.
"Se passeias com Antredom, irás de barriga vazia, de joelhos rasgados e de morte esquecida."
As pessoas afastam antes de tudo a menção do nome de Antredom. Trabalhadores pedem a prosperidade de Sevides para que suas plantas cresçam e afastem a fome. Pessoas se apressam em fazer doações aos mendigos. Tudo decerto é válido para afastar o sorriso do Pouco para que nada se perca e nada pare de crescer.
O Pouco, por sua natureza parasita, também é tido como o patrono dos ladrões de beira de estrada, dos mendigos e de qualquer ser que se presta à vida miserável, bem como daqueles que por um motivo ou outro querem prosperar em cima da perca covarde e irreversível dos outros.
Antredom é, conceitualmente, o demônio da fome, da miséria e da avareza. E garante a seus seguidores a prosperidade em cima da fome e da miséria dos outros.
Sua aparência medíocre sempre representou o caminho usado por ele e seus seguidores para se aproximarem de suas vítimas. Fazendo uso de suas artimanhas, um seguidor se faz passar por um pobre coitado que precisa de ajuda. Esta conduta, porém, guarda por trás o maior dos perigos. Quando a vítima se revela propícia a ajudar e abre as portas de sua casa é que a desgraça do Pouco recai sobre sua vida. O alvo quase sempre é alguém que ascende em prosperidade mediante o seu trabalho na lavoura. E quando a vítima menos espera, perde tudo, cai em desgraça e sobram apenas as migalhas do Sorriso dos Miseráveis.
Acima de tudo, Antredom possui uma fome insaciável. Está sempre engolindo alguma alma ou até mesmo os seus demônios se estiver irritado.
Para aqueles que perderam tudo, ele pode ser representado por um enxame de insetos que chega em uma lavoura e devora tudo.
Quando seus servos se saúdam um estende uma mão, representando o pedido e a fome, e o outro coloca a mão fechada em cima, representando a avareza.
Entre os príncipes é o menos procurado pelos seus pares, pois sabem que ele não ajuda, ou pouco ajuda mesmo em um interesse em comum. Até mesmo seu filho Udoviom, nascido de seu estômago, procura evitar a sua presença maldita. Apesar disso, possui uma relação cordial com sua filha Vouxiz, que costuma oferecer banquetes em seu reino para o pai.
Possui uma rixa particular com Anasmadis, pois a Princesa da Luxúria tem entre os seus adoradores os glutões, que o príncipe da fome deseja tomar para torturar em seu reino, fazendo-os observar eternamente famintos enquanto ele come.
Esse ritual consiste em fazer a vítima passar fome por dias ou semanas que antecedem o evento e no dia do banquete a enganam para prometer qualquer coisa em troca de comida, a vítima não sabe, mas está prometendo a própria alma. Depois que a vítima faz a promessa, ela é levada ao banquete, mas quando ela se sacia o acordo é selado e ela é sacrificada. Seu corpo é usado como ingrediente de receitas culinárias que os cultistas devorarão em seguida.
O banquete acontece nas mesmas noites da Festa da Fartura e da Festa da Colheita e tem duas utilidades práticas. Por um lado, é uma afronta a Sevides, por outro, os servos de Antredom podem disfarçar que o banquete é pela festa ao deus, enquanto realizam seu ritual.
Podem ser encontrados adoradores de Antredom em diversas áreas, mas principalmente em áreas rurais, às vezes em guildas comerciais ou de ladrões, ou mesmo entre os nobres mais avarentos.
A primeira fala que durante a guerra dos deuses com os titãs, sorrateiramente apanhou e engoliu respingos do sangue da deusa Gânis e da essência do titã Ar enquanto eles lutavam. Mas não conseguiu absorver tanto poder, que acabou interagindo com seu próprio poder e gerou uma filha em seu estômago. A titã-segunda nascida dessa união de essências, é Vouxiz, que ascendeu entre os demônios e conquistou seu próprio reino, se tornando uma Princesa Infernal.
A segunda lenda diz que ao longo das pérolas do tempo Antredom também havia devorado miríades de demônios ou almas corrompidas em demônios. Aos poucos esta multitude foi ganhando consciência em seu estômago. Mas o Pouco, mesmo percebendo a consciência que se formava, nunca quis libertá-la. A consciência criou identidade própria e se auto chamou Udoviom, guardando poder e aguardando o momento certo para escapar e conquistar seu reino. Hoje, Udoviom, a Peste, é um dos príncipes infernais.
Também é comum a prática do canibalismo entre os praticantes deste culto. Que saberão fazer as receitas macabras mais requintadas com o ingrediente principal.
Sempre estão maquinando contra aqueles que estão prosperando, buscando a sua ruína.
Em todos os cultos são celebrados banquetes e os cultistas sempre deixam oferendas de alimentos maiores do que aquilo que irão comer para abastecer o templo.
É comum haver um calabouço subterrâneo cuja entrada é escondida abaixo do altar, onde a vítima é preparada passando fome por alguns dias, antes do sacrifício.
O outro local profano mais conhecido pelos demonistas fica na cidade de Tória. Lá, há um labirinto subterrâneo onde eles costumam soltar donzelas raptadas de outras cidades, que, na busca pela saída, são caçadas e devoradas por demônios para seu divertimento e para homenagem a Antredom. Dizem que os cultistas de lá buscam a oportunidade para que o Arado de Ouro, relíquia dos adoradores de Sevides, seja roubado e profanado.
Quando o portador do medalhão tocar em alguém, rouba a energia heroica da vítima para si. A vítima tocada se sente faminta e cansada.
Moeda de Efialtes: não se sabe ao certo quantas moedas existem e quem as possui, mas sabe-se que estas se encontram espalhadas pelo continente. Essas são moedas comuns que foram amaldiçoadas pelos demonistas, que as distribuem disfarçadamente em pagamentos e quem as recebe é amaldiçoado de forma que tudo o que junta de comida apodrece de um dia pro outro. Apenas os demonistas, ou alguém capaz de ver magia, conseguem enxergar que a moeda tem o símbolo de Antredom invisível em um dos lados.
As Cidades Estado e suas terras rachadas pelo calor do sol, bem como o deserto da Levânia são lugares em que seus cultistas são mais cruéis.
Ao contrário de outros reinos em que grandes muros delimitam suas fronteiras, a cidadela de Alhino se encontra sobre uma grande montanha cercada por um extenso vale.
Para aqueles que veem pela primeira vez o lugar, pode-se chegar a imaginar que a paisagem é tomada por abundantes plantações no ponto de colheita. Mas olhando com mais cuidado pode-se ver que a maioria das plantas são, na verdade, centenas de milhares de condenados presos ao chão e suas folhas são um número incontável de pequenos demônios insectoides que se alimentam de sua "carne". As almas permanecem presas no solo por raízes demoníacas, que se nutrem de seu "sangue" e crescem se enroscando em seu corpo até amordaçar a boca. E, às vezes, são levadas por um dia para assistir aos banquetes. Os demônios que falharam em suas missões têm suas bocas costuradas e são feitos de espantalhos para vigiar os condenados. Outros demônios carregam ferramentas de agricultores e parecem trabalhar na lavoura onde colhem "órgãos" e "sangue" dos condenados. Por fim, alguns seres infernais comandam o trabalho dos demais enquanto patrulham, levando em coleiras carniçais infernais que rastejam como cães.
O fruto das colheitas é levado por uma fila de demônios até a cidadela, mas o sangue é usado para regar uma plantação de ervas carnívoras demoníacas que produzem frutos iguais a estômagos. Este fruto demoníaco é levado para o castelo da cidadela para ser usado em receitas bizarras ou para produzir um vinho infernal. Os pequenos demônios-insetos também são colhidos e cozinhados para o príncipe e seu séquito quando estão gordos o suficiente.
Os condenados sofrem com as dores dos tormentos citados e, acima disso, com a dor da imensa fome que os toma principalmente enquanto se regeneram no dia seguinte apenas para voltarem a ser mutilados e devorados novamente. Quando um condenado está vazio de todo o sentimento e memória é, por fim, levado para o topo da montanha para ser devorado de vez pelo Príncipe.
Dentro do castelo, há um imenso banquete onde Antredom e os seus generais que o serviram com mais afinco se alimentam de pães e tortas feitos com os órgãos tirados dos condenados, enquanto uma pequena multidão de condenados assiste esfomeada. Nos pés da mesa, enviados de Sevides que foram capturados e tiveram seus dedos, asas e olhos arrancados, mendigam pelas migalhas enquanto lentamente se corrompem em demônios medonhos.
O trabalho de preparar todos os alimentos e o vinho infernal para o banquete demoníaco fica para os guardiões anteriores, entre eles uma bruxa chamada Baiabá que foi a guardiã da cidade antes de Efialtes. Quando era viva atraia criancinhas com doces e quando as capturava as cozinhava e comia.
Quando um condenado entra pelos portões do reino, aparece no ponto mais distante do castelo. Efialtes espera que o condenado iludido caminhe para os campos verdejantes para se aproximar o suficiente dos demônios agricultores ou dos demônios espantalhos, que o capturarão e o prenderão ao chão. Porém, quando um condenado tenta fugir e não é pego pelos espantalhos, Efialtes o persegue com seu carniçal e usa seu chicote para prender a vítima.
A história de Efialtes é que em vida ele era um nobre abastado que tinha uma grande quantidade de terras férteis e prósperas. Era notoriamente avarento e quando dava algum banquete em raríssimas ocasiões, proibia os servos de comerem os restos ou de darem aos pobres e os fazia guardar tudo em gavetas embaixo da mesa para comer no dia seguinte. Já havia juntado um tesouro maior que o de muitos reis de sua época, mas quando seu filho foi capturado lutando por novas terras, ele se negou a pagar o resgate e recebeu como presente o coração do jovem.
Enlouquecido pela angústia e avareza, bem como abandonado pelo resto da família, no fim de seus dias morreu sozinho sobre seu tesouro, que mais tarde foi saqueado pelos antigos empregados. Sua alma jamais encontrou descanso e passou a caçar todos aqueles que tivessem em mãos o seu tesouro roubado, agora amaldiçoado. Quando arruinou todos que tocaram em seu tesouro, foi trazido para o reino de Antredom, que permitiu que ele trouxesse também seu corpo que foi distorcido na forma de um carniçal rastejante impregnado pela energia demoníaca do lugar.
Branaxis